Marcello sentiu seu corpo gelar. Era uma situação complicada e ele nunca havia precisado dar algum conselho, mas logo pensou em um, um conselho que já havia recebido há tempo. Não era o melhor conselho que ela já ouviu, mas era o melhor que ele poderia dar, então:
- Olha, Ágata, se a Talita gosta mesmo de você, ela não vai lhe abandonar, pode até ser que a Talita converse bastante com a Paula e comece a ser amiga dela, mas se ela ama você realmente ela não vai deixar de ser sua amiga. Se ela ficar com a Paula, procure outra amiga; não vá ficar sofrendo por causa dela.
Ágata chorou, temendo que Talita deixasse de ser sua amiga. Ela não ligava que Talita ficasse com outras pessoas, mas ela sabia que Talita não era bem firme em suas decisões. Ela dizia que não gostava da Paula, mas nesse recreio mesmo as duas haviam lanchado sozinhas, e Ágata lanchou com a Mayara e com a Alice.
Os dias se passaram; 17 dias se passaram e faltavam apenas dois dias para o passeio. Nesses últimos dias, Talita andava com Paula e Ágata com Alice e Mayara. Ágata ainda amava Talita e ainda queria ficar junto com ela no passeio.
Voltaram da escola e Ágata voltou aos lamentos de novo:
- Marcello, hoje eu tentei andar com a Talita no recreio e a Paula disse que ela está cansada de me ver "governar" a vida da Talita, de eu só querer mandar nela. Mas a Talita vive dizendo que é a Paula que faz isso com ela. Eu quero saber se isso é verdade ou mentira.
Marcello nem teve chance de falar; Ágata correu na frente e entrou em casa:
- Alô? - diz Ágata no telefone. - Que bom que atendeu. Bem, Talita, eu acho que você já sabe por que eu estou ligando.
- É, me desculpe, é que hoje eu fui embora mais cedo e não deu pra conversar sobre onde vamos sentar no ônibus...
Ágata interrompe:
- Não! Como é que você disse? Sentar no ônibus? Talita, há 17 dias a gente não dá um oi uma pra outra. Eu não existo pra você! E depois você vem com o papo de que odeia a Paula! E, falando nisso, hoje mesmo a Paula disse que eu "governo" a sua vida! E eu quero ser sua amiga, quero que você fique comigo e me diga no que eu estou mandando demais e, por favor, continue sendo minha amiga.
- Eu só disse isso pra ela não ficar brava comigo.
- Então quer dizer que você diz que odeia a Paula só pra eu não ficar brava? Pense nisso.
Depois de uns instantes em silêncio, Ágata conclui:
- Talita, minha sugestão de onde sentar no ônibus é no meio, e se quiser outro lugar é só falar.
Ágata desliga e chorando se joga de cara no travesseiro.
Ágata não seguiu o conselho de Marcello e quis ainda sentar com a Talita no passeio. Seria difícil aceitar que Talita não era mais sua amiga.
Chegou o dia do passeio. Sua mãe Isabel, seu pai Julio e Marcello foram levar Ágata. A mãe foi no banco traseiro com ela. No caminho, a mãe foi conversando com ela sobre sua amiga:
- Ágata, tem certeza de que quer ir com a Talita? Você sabe que ela pode simplesmente brincar com a Paula e não ligar para você ou pode sentar com ela e deixar você sozinha. Eu não confio mais nessa menina; ela pode mudar a qualquer hora.
- Mãe, ela sempre foi minha amiga, a mais legal que eu já tive. Se eu não for com ela, com quem posso ir? Todas as meninas já têm seus pares e ela é o meu.
- Tudo bem, se cuide - diz mamãe beijando a testa filha.
Junto com as outras crianças, Ágata e Talita entram no ônibus e se sentam juntas nas poltronas quatro e cinco. No começo não foi nada mal, mas também não foi nada legal. Ágata se lembrou do primeiro passeio, de que tinham passado a viagem toda conversando e brincando, mas desta vez Talita e Ágata não tinham nada para conversar, porque nunca mais ficavam juntas.
A viagem acabou, desceram do ônibus e até ali Talita e Ágata não falavam nada, a não ser de vez em quando aquela coisinha: "Olha essa planta", "Que camiseta bonita", "Que pássaro engraçado", etc.
Todos desceram e foram para o banheiro. Quando voltaram do banheiro, Talita deu de cara com a Paula, e Paula tinha a sua "jogada" para fazer com que Talita ficasse com ela. Logo Paula puxou assunto, fez brincadeirinhas, e Talita tinha muito mais coisas para falar com Paula. Ágata tentava puxar algum assunto antes, mas Talita não estava muito a fim de prosseguir na conversa, mas sim continuar os assuntos da Paula.
E foi isso que Paula fez: fez com que Talita quisesse ficar com ela. Ágata tentou entrar na conversa, tentou fazer com que Talita percebesse que ela estava ali e que também queria se divertir, mas Talita nem deu bola pra ela. Então Ágata saiu de perto, para não ficar vendo e ter vontade de ganhar atenção também. Lágrimas encheram seus olhos. Mamãe tinha razão. Ela subia as escadas do zoológico lembrando de cada coisa que fizeram juntas, e de como Talita tinha sido capaz de fazer aquilo.
Quando foram para o ônibus, Talita teve coragem de chegar sem dizer nada, pegar sua mochila, passar por Ágata e ir sentar com Paula. Ainda bem que Ágata também tinha boas amigas que deixaram que ela se sentasse com elas: eram Maria Clara e Ana Luíza. Ela ficou com elas durante o passeio.
Ágata, na hora de voltar, ficou sozinha. Estava cansada e não queria ficar apertada, então ficou sozinha, encostada na janela, chorando, lembrando de tudo o que havia se passado. A professora pediu que ela contasse o motivo, e quando Ágata contou, a professora tentou consolá-la.
Ágata voltou pra casa e contou pra sua mãe o que havia acontecido no passeio. E lamentou dizendo que a mãe tinha razão sobre Talita. Marcelo disse pra ela ficar com a Ana Luíza e com a Maria Clara, e foi isso o que ela fez.
Ágata começou a andar com elas, e Talita com Paula, e agora Ágata tinha amizades verdadeiras com amigas de verdade, e elas tinham fidelidade com ela - não que as amigas não pudessem ficar com outras amigas, mas que não a abandonassem. E Ágata também era fiel com elas.
Giovanna Borges
2 comentários:
Que legal! Quero que vc continue a fazer historias sensasionais de amizades e mais uma coisa Gi, eu comprei um iPad mas quero que vc me diga uma coisa, o angry birds paga? Como posso achalo? E que eu não consigo achar o angry birds para iPad!
Gi, vc poderia juntar as histórias postadas no blog e publicar um livro! Te garanto, ia fazer o maior sucesso...
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