sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Sempre precisa ganhar?

- Mãe, eu ganhei de novo no jogo - diz Felipe entrando em casa animado.

- Ai, que suado! Não senta aqui! - diz Juliana deitando no sofá.

- Parabéns! - diz a mãe. - Antes de um abraço de boas-vindas, vá tomar um banho. Juliana me dê um espacinho, quero sentar ao seu lado.

Quando Felipe saiu do banho, o pai o cumprimentou e os dois conversaram animados sobre as duas vezes seguidas em que o time de Felipe havia ganhado o jogo (naquele dia e no dia anterior).

- Amanhã tem jogo de novo e semana que vem também.

- É, filho, mas lembre-se: o importante não é ganhar; o importante é se divertir. Mas eu é que não quero perder!

Os dois começam a rir e Felipe diz que entendeu a parte séria, e os dois se despedem.

No outro dia, a mãe foi levar Felipe pro jogo e quando viu tantos pais que assistiam os filhos jogando, logo pensou: "Eu é que não vou deixar meu filho jogar sem assisti-lo."

Então, a mãe e Juliana se sentaram na arquibancada para assistir o irmão jogar. Juliana reclamou um pouco que não queria; preferia assistir vôlei feminino na televisão, mas acabou tendo que ficar. E até que começou a ficar legal: 1 a 0 pro time do Felipe. E a plateia se pôs de pé, ia ser um gol e tanto do Felipe, se a defesa não fosse tão boa. Mas o que é isso? Um gol contra! É do Flávio.

Quando volta a receber a bola, Flávio, com raiva, chuta-a na direção certa e faz o gol: 2 a 1 pro time do Felipe. Como a tranquilidade do time do Felipe era grande, se descuidaram e o time adversário fez mais um gol. A torcida adversária foi à loucura e Felipe ficou arrasado. Com o empate os times ficaram bem atentos, mas a bola é "danada", não deu pra fazer de novo o gol e tanto do Felipe. O goleiro deles defendeu um chute a gol. Mas, em compensação, Felipe também defendeu um chute deles e a bola nem encostou na rede.

E o jogo foi para os pênaltis. Felipe foi escolhido para chutar, junto com mais três, e o primeiro chute era do time dele. Não teve gol. O time adversário chutou a bola e, se eu fosse narrar em câmera lenta, seria assim:

- Nããããoo, aa booolaa! - diz Felipe.

- Peeedriiinhooo!

Voltando à "câmera normal", a bola é "danada" mesmo; o time adversário venceu o jogo. Felipe saiu mais arrasado ainda.

- Preferia ter assistido vôlei feminino. Minha amiga ligou e disse que ganharam; devia ter torcido pro outro time - diz Juliana.

Mamãe olhou com um ar de repreensão para ela.

- Felipe, isso acontece, não podemos sempre ganhar, é como diz o velho ditado: o importante... - diz a mãe, mas é interrompida por Felipe:

- Eu sei, eu sei, mas eu não quero perder!

- Nem eu, mas acontece.

Juliana foi repreendida em casa e Felipe não conversou com ninguém. Nem vale a pena narrar o jogo da outra semana; foi ainda pior. Mas o consolo foi diferente:

- Felipe... Felipe, eu quero pedir desculpas por semana passada, e eu queria dizer uma coisa - diz Juliana, na porta do quarto do irmão.

- Entra, Ju.

- É... Eu acho que se você tivesse chance de ser um goleiro, isso não teria acontecido.

- Mas eu não gosto de ser goleiro.

- Ah, mas você também é um ótimo jogador de meio campo, e pra falar a verdade eu prefiro te assistir a assistir vôlei feminino.

- Sério? Por quê?

- É que eu acho que vocês persistem. Hoje o time de vôlei perdeu, e a representante do time não quis continuar, mas vocês não desistem mesmo quando perdem e pra mim é isso que vale. Por isso eu quero pedir desculpas, por ser tão chata.

- Tudo bem, e eu quero te agradecer porque se não fosse você eu não iria ao jogo de amanhã.

Eles saem do quarto e a mãe diz:

- Aprenderam a lição? O importante não é ganhar, é se divertir.

- Mas eu não quero perder. Rê, rê, rê - diz Felipe baixinho para Juliana e os dois começam a dar risada.

Giovanna Borges